sábado, 28 de maio de 2016

OS TRÊS NASCIMENTOS DO ESPÍRITO HUMANO – CARL GUSTAV JUNG

OS TRÊS NASCIMENTOS DO ESPÍRITO HUMANO – CARL GUSTAV JUNG


OS TRÊS NASCIMENTOS DO ESPÍRITO HUMANO – CARL GUSTAV JUNG 

 Jung acredita que precisamos passar por três nascimentos na nossa vida. O primeiro é o nosso nascimento físico, depois o nascimento do nosso Ego, e por fim o nascimento espiritual da Consciência. De acordo com esta abordagem, nós também passamos por três fases de desenvolvimento em nossa vida. No primeiro terço de nossas vidas, a ênfase está em nosso crescimento corporal, na fase intermediária de nossas vidas o nosso Ego cresce, e o último terço de nossas vidas é o período do nosso desenvolvimento interno. Durante os dois primeiros nascimentos o aspecto mais importante é a exploração ao máximo das oportunidades oferecidas pelo mundo externo. Na terceira fase, no entanto, a ênfase se desloca sobre as nossas potencialidades de desenvolvimento interno. Infelizmente, a maioria das pessoas nunca chega a experimentar o nascimento espiritual, por várias razões. Vamos examinar as possíveis razões para isso, para descobrir quais os fatores que impedem o nascimento espiritual em nós. 


A programação da Mente 

 Nosso nascimento espiritual é geralmente impedido pela profunda programação da mente condicionada. Estes programas colocam o desenvolvimento do ego em primeiro plano, e fazem esforços para sustentar este desenvolvimento até ao final da vida do indivíduo. As programações apoiam o progresso do Ego, que nos impelem a desenvolver um ego poderoso e eficiente para nós mesmos, e eles nos fazem acreditar que este é o objetivo final na vida humana. Estas programações consideram qualquer esforço de suprimir o Ego como um sinal de fraqueza que devemos ter vergonha, e que devemos evitar a todo custo. 

 Estes padrões mentais condicionados são reconhecidos como diversos sistemas de crenças e padrões de pensamentos em nossas vidas. Estes padrões de pensamentos e crenças não são criados por nós mesmos. Eles foram entregues a nós por nossos pais, nossa comunidade e dentro da sociedade em que crescemos. Também absorvemos algumas crenças através dos meios de comunicação. Nós, muitas vezes aceitamos esses padrões e crenças pré-formulados e nada originais sem qualquer senso ou pensamento crítico; e além do mais, nos identificamos com estes padrões que irão, desta forma, ser incorporados em nossas personalidades. 

 É assim que nossas diferentes convicções foram criadas ao longo dos anos; é assim que criamos um sistema de valores e crenças para nós mesmos, e agora, organizamos toda a nossa vida com base nesses sistemas. Esses padrões mentais condicionados servem como pano de fundo para as situações que nos acontecem a cada dia. A maioria das nossas preocupações, desejos, prazeres e motivações são derivadas desses padrões mentais e tudo isto, por sua vez, reforça ainda mais esses padrões dentro de um ciclo vicioso. 

 O padrão social 

 Tudo o que foi dito acima pode nos levar a conclusão de que nossa mente programada é um produto social. Reforçar o Ego e nunca chegar ao nascimento espiritual, de fato, servem aos interesses da sociedade. O mais importante sistema de co-existência social na Terra hoje é a sociedade de consumo. Isso significa que a base do desenvolvimento social é o crescimento econômico, e o crescimento econômico depende da quantidade que consumimos. 

 O mais importante consumidor é o Ego, uma vez que todos os produtos obtidos (casa, carro, roupas caras), melhoram a grandeza imaginária do Ego. Quanto mais mercadorias ou mais poder possuímos, mais importantes, como membros, nos tornamos na sociedade de consumo. 

 Se formos capazes de desviar a nossa atenção do Ego, e concentrarmos em nosso desenvolvimento interno e no nosso nascimento espiritual, nossas qualidades como consumidores vão cair consideravelmente, uma vez que já não seremos atraídos para as coisas que até agora inflavam nossos Egos. 

 Como nas últimas décadas mais e mais pessoas tem sentido uma necessidade para o nascimento espiritual, a estratégia social tem se alterado de acordo com isto. O desenvolvimento espiritual também tem se desenvolvido como um produto de consumo, que é suportado em grande parte pelo instinto de sobrevivência do Ego. O Ego, que tem se interessado por dinheiro e poder, agora volta-se para o desenvolvimento espiritual, e disfarça-se nas vestes de um Ego espiritual. Tentamos decorar as roupas espirituais, acrescentando mais e mais conhecimento e experiência espiritual, de modo a torná-lo mais colorido e individual. Com tudo isso, esperamos que o nosso progresso espiritual sirva para aumentar e eternizar a felicidade do nosso Ego espiritual. 

 A sociedade de consumo está toda satisfeita em nos servir dentro destas necessidades. Basta um olhar para o mercado que vivemos de livros espirituais, métodos e mestres para nos convencer sobre isso. Nada mudou realmente; o padrão da sociedade de consumo é o mesmo, só o seu conteúdo que foi parcialmente substituído.

 Nascimento Espiritual 

 Do ponto de vista do nosso nascimento espiritual e desenvolvimento interno, no entanto, o volume de conhecimento espiritual reunidos, os métodos de desenvolvimento espiritual adquiridos, e os eventos espirituais sofisticados que tivemos em nossa vida, são todos sem importância. 

 O Nascimento Espiritual só pode ser o resultado da consciência. O nosso desenvolvimento interno, portanto, não depende apenas de nossa experiência de vida; ele depende muito mais da nossa capacidade de desviar a nossa atenção do mundo externo para o nosso mundo interno. Somos capazes de nos afastar dos padrões da mente, programadas pelos nossos Egos, e encontrar um profundo desejo de conhecer a verdadeira resposta para a pergunta “Quem sou eu?” 

 Os padrões da sociedade de consumo estão determinados a nos impedir de fazer os ajustes necessários em nossa orientação, colando nossa atenção a vários produtos de consumo ou em um esquema de desenvolvimento espiritual que envolva o Ego. Um importante elemento deste padrão de desenvolvimento espiritual é que nós estamos tentando entender o conteúdo de nossas mentes, para analisar nossos pensamentos e emoções. Nossa atenção é assim ocupada pelos diversos métodos que estamos usando para examinar nossos pensamentos e emoções. Isso é o que temos considerado como o nosso verdadeiro mundo interno, e assim criamos a ilusão de labutar em nosso nascimento espiritual. 

 Do ponto de vista do nosso nascimento espiritual – o frequente caótico mundo da nossa Mente e emoções – não é o nosso verdadeiro mundo interno. Nossa atenção não deve ser direcionada para a análise e compreensão dos mesmos; em vez disso, temos de concentrar em nos tornar consciente da nossa existência, para encontrar o centro de nosso Ser por trás da nossa vida externa e história pessoal. Esse é o nosso mundo real interno. 

 No decurso do nosso mundo espiritual nos tornamos conscientes e alertas para aquele centro interno, para o mundo interno. Uma vez que isto tenha sido realizado, a nossa vida é colocada em bases inteiramente novas. A mente pára de funcionar da maneira que costumava e, junto com isso, o nosso senso de identificação com a mente desaparece. O Ego espiritual, o nosso pequeno e separado eu, desaparece, e somos permeados por uma permanente presença de luz. A personalidade foi embora, e o que resta é silêncio e presença, como a verdadeira essência de nossa existência. A partir desse momento, isto é que servirá como a base real para o nosso desenvolvimento interno. 

Frank M. Wanderer – autoria

Shakyamuni – edição e livre tradução.

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