PRATIQUE A AUTODISCIPLINA SENDO MESTRE DE VOCÊ MESMO
Por Miguel Lucas em Psicologia Comportamental
Quando os pensamentos negativos nos invadem a mente, quando
queremos fazer uma coisa e acabamos fazendo outra, ou quando queremos deixar de
nos preocupar sobre determinado assunto, conseguir ter controle sobre a mente
seria o melhor que nos poderia acontecer. Provavelmente é um desejo que
pontualmente lhe passa pela mente. Quero dizer-lhe que até determinado ponto
isso pode ser possível. Com disciplina e treino sobre a capacidade de foco, de
atenção e de decisão sobre que pensamentos criar na mente é possível vir a ser
mestre de você mesmo. Saber direcionar a atenção para onde ela mais importa
estar, é o caminho que permite alcançar autodomínio, confiança e conhecimento
sobre você mesmo.
Em seguida apresento seis passos que descrevem estratégias
que permitem ajudá-lo a melhorar a sua autodisciplina e controle sobre os seus
próprios pensamentos:
PASSO 1: OUÇA E RECONHEÇA
Por vezes as mensagens que a nossa mente emite para nós
mesmos podem ser cortantes, desagradáveis e penosas. É no exato momento que
você ganha consciência dessas mensagens que pode fazer algo de positivo,
revertendo-as. Assim sendo, é importante que não as considere como uma crítica
negativa ou como uma forma de mandar-se abaixo ou punir-se.
Com o tipo de mensagens que a mente envia para a nossa
consciência, se percebermos que isso é informação em forma de incomodo e de
alerta, podemos passar à ação, e fazer algo que permita aumentar a
probabilidade de sermos bem sucedidos. Saber ouvir e reconhecer as preocupações
momentâneas da própria mente, é um passo importante para ficar ciente acerca
dos assuntos para onde deveremos dirigir a nossa atenção.
PASSO 2: FAÇA AS PAZES COM A SUA MENTE
Você pode não gostar de algumas mensagens que a sua mente
cria ou da forma que isso influencia as suas ações. Na verdade, toda a
negatividade pode ser francamente irritante, às vezes. Mas o fato é, que a sua
mente faz parte de você, você está preso a ela, e não pode eliminá-la (e ainda
bem). Os pensamentos negativos irão sempre aparecer na sua mente. No entanto,
você pode abandonar o seu diálogo autocrítico que promove a negatividade.
Aprofundei este assunto no artigo: Capacite-se e desafie o seu diálogo interno
autocrítico. Ou seja, ter pensamentos negativos não tem necessariamente de
conduzir-nos à negatividade. Aprofundei este assunto no artigo: Abandone a
negatividade, acabe com o diálogo autocrítico.
Aceitar que os pensamentos e sentimentos negativos se irão
fazer notar, e que não conseguimos impedir que nos apareçam na mente e no
corpo, permite-nos fazer as pazes com a nossa mente. Assimilar e levar em
consideração este conceito impele-nos a
focar a nossa atenção nas ações que nos permitem aproximar-nos dos objetivos
pretendidos, sem que se desenvolvam conflitos internos.
A reter: Não temos necessariamente que gostar dos
pensamentos negativos ou concordar com eles, apenas temos que tomar a decisão
de temporariamente prestar-lhes atenção, para depois dirigimos o foco para
outros pensamentos ou ações que nos sirvam de forma construtiva.
PASSO 3: ENTENDA QUE OS SEUS PENSAMENTOS SÃO APENAS
PENSAMENTOS
Não conseguimos ver a nossa mente. Como tal, também não
conseguimos ver a grande maioria dos nossos pensamentos. Mas, na grande maioria
das vezes pensamos que somos os nossos pensamentos, unimo-nos e fundimo-nos a
eles. Nesse exato momento, ao dar-se a fusão, caso os pensamentos sejam
negativos, depreciativos e incapacitantes, podemos criar um problema a nós
mesmos. Num estado de fusão com os pensamentos e sentimentos, dá-se a
unificação, e passamos a aceitar esses mesmos pensamentos ou sentimentos como
uma verdade absoluta, como sendo nós mesmos.
Por exemplo: “Eu estou pensando que sou um fracasso e chato,
caramba, eu devo ser um fracasso e chato.”
Este tipo de lógica simplista parece prevalecer, porque não
podemos ver as nossas próprias mentes, por isso temos dificuldade em
desapegar-nos dos nossos pensamentos (ficar fora de nós mesmos) e obter uma perspectiva
objetiva do ponto de vista do observador.
Na realidade, os nossos pensamentos são eventos mentais,
influenciados pelos nossos humores, sensações de fome ou de cansaço, saúde
física, hormonas, o sexo, o clima, o que assistimos na TV ontem à noite, o que
comemos ao jantar, o que aprendemos como crianças, e assim por diante. Eles são
como hábitos mentais. E, como todos os hábitos, os nossos pensamentos podem ser
saudáveis ou não, servir-nos ou não, facilitar-nos a vida ou não. Assim, como
não podemos levantar-nos do sofá e, sem treino irmos de imediato correr uma
maratona, também não podemos magicamente desligar os nossos padrões mentais de
pensamentos negativos, sem prática repetida e esforço considerável.
Para aprofundar o assunto, leia: Como implementar o pensamento positivo na sua vida?
PASSO 4: OBSERVE A SUA PRÓPRIA MENTE
O ditado “Conhece o teu inimigo.” também é aplicável na
nossa relação com a nossa própria mente. Assim como um bom líder gasta algum do seu tempo visitando
os vários departamentos, para conhecer os funcionários, também nós temos de
dedicar tempo para conhecer como a nossa mente trabalha na nossa relação com a
vida. Chame isso de plena consciência, meditação, ou tempo de silêncio. O tempo
gasto na observação da sua mente é tão
importante quanto o tempo dedicado ao exercício físico. Por exemplo, quando
você tenta focar a sua atenção no ritmo da sua respiração, ou sobre as árvores
e flores quando você caminha na natureza, consegue fazê-lo sem distrações? Se
sim ótimo, está no bom caminho para conseguir observar os seus próprios
pensamentos e consequentemente distanciar-se deles. Ou pelo contrário, quando
você tenta focar a sua atenção em algo, a sua mente vagueia por todo o lado,
provavelmente trazendo preocupações antigas ou problemas não resolvidos? Neste
caso, se não for controlada, pode levá-lo para fora da tranquilidade do momento
presente, numa espiral de preocupação, medo e julgamento.
A prática da mindfulness (atenção plena) envolve não apenas
perceber para onde a sua mente vai quando divaga, mas também trazê-la
suavemente de volta para o foco na respiração, no ato de comer, andar, amar, ou
de trabalho. Quando você faz isso várias vezes ao longo dos dias ou meses, você
começa a treinar a sua capacidade de dirigir a sua atenção de forma intencional
para onde quer. Com a melhoria deste processo você começa a saber quando a sua
mente está a emitir pensamentos prejudiciais, guiando-a posteriormente de
acordo com a sua intenção. Quando você evolui na observação dos seus
pensamentos, e consequentemente dos seus estados internos, fica preparado para
regulá-los até ao ponto de equilíbrio necessário para gerar outros pensamentos
que melhor se adequem aos objetivos pretendidos.
PASSO 5: TREINE A MENTE PARA ESTRUTURAR NOVAS LIGAÇÕES
NEURONAIS
Há um velho e sábio ditado: “Nós somos o que fazemos
repetidamente.” No seguimento deste raciocínio, eu gostaria de acrescentar “Nós
tornamo-nos naquilo que repetidamente pensamos.” Ao longo do tempo, os nossos
padrões de pensamento vão ficando gravados no nosso cérebro, mais propriamente
nos bilhões de neurónios, conectando-se juntos, em padrões único que se enraízam. Quando certos caminhos
cerebrais (conexões neuronais) entre diferentes componentes ou ideias, quando
frequentemente repetidos, os neurónios começam a “disparar” transmitindo
informações numa rápida sequência, interligando-se uns com os outros. Uma vez
que um primeiro pensamento seja iniciado, toda a sequência é ativada.
O piloto automático é ótimo para dirigir um carro, mas não
tão bom para o ótimo funcionamento emocional. Por exemplo, você pode ter
profundos medos de se aproximar de pessoas, porque poderá ter sido maltratado
quando criança. Para aprender a amar, é preciso tomar consciência de toda a
sequência negativa e como ela deturpou as suas percepções, rotular essas
reações como pertencentes ao passado, e reorientar a sua mente na experiência do momento presente.
Com o tempo, você pode começar a mudar alguns dos seus
padrões mentais negativos, através de uma elevada intenção consciente, ativando
o córtex pré-frontal (o centro executivo, responsável pelo estabelecimento de
metas, planejamento e execução das mesmas), que é capaz de influenciar os seus
comportamentos e atitudes quando orientados pelos pensamentos positivos e
construtivos escolhidos por você. Desta forma, a técnica é identificar os seus
pensamentos, ficar ciente deles, perceber que não é os seus pensamentos,
praticando o distanciamento e desapego, para que consiga posteriormente
direcionar a sua atenção para outros pensamentos, atividades ou ações com o
objetivo de restabelecer o equilíbrio emocional e autodomínio.
A saber: A capacidade de separar-se dos seus pensamentos
negativos, perceber que pode criar outros de acordo com os seus objetivos,
dirigindo a sua atenção intencionalmente de forma a promover os comportamentos
e atitudes positivas e construtivas, beneficia a autodisciplina, colocando-o no
caminho da mestria.
PASSO 6: PRATIQUE A AUTOCOMPAIXÃO
A autocompaixão não tem propriamente a ver com ter pena de
nós mesmos. O frase que melhor descreve este conceito é: “uma maneira mais saudável de relacionar-se
consigo mesmo.” E isso é exatamente o que é. Como tenho vindo a explicar, é
realmente necessário muita dedicação, esforço e treino para mudar pensamentos.
E, não podemos evitar ter determinados pensamentos e sentimentos, quando estes
surgem. Mas podemos mudar o modo como reagimos a esses pensamento e
sentimentos. A grande maioria de nós fomos ensinados que alguns dos nossos
sentimentos são sinais de fraqueza, que devem ser escondidos dos outros a
qualquer custo. Esse tipo de conceito está absolutamente errado. Alguns
autores, como o Dr. Brene Brown, fornecem-nos um convincente argumento baseado
na investigação, que nos diz que expressar a nossa vulnerabilidade pode ser uma
fonte de força e confiança, se devidamente gerida.
A vulnerabilidade soa como verdade e sente-se como coragem.
Verdade e coragem não são sempre confortáveis, mas elas nunca são fraqueza. -
Bréne Brown
Quando julgamos os nossos sentimentos, perdemos o contato
com os benefícios desses sentimentos. Como referi anteriormente, os pensamentos e sentimentos negativos são
valiosas fontes de informação sobre as nossas reações aos acontecimentos nas
nossas vidas, e eles podem dizer-nos o que é mais significativo e importante
para nós. por exemplo, algumas emoções
desagradáveis são sinais que nos dizem para alcançar conforto ou que devemos
tirar um tempo para descansar e repor a nossa energia. Ao invés de criticar a
nós mesmos, podemos aprender novas formas de apoiar-nos no nosso sofrimento.
Falei deste assunto, no artigo: A verdadeira força está em compreender e
aceitar a dor emocional.
Nos momentos de aflição, angustia, desesperança, que nos
fazem despoletar apreciações negativas acerca da nossa vida e provavelmente de
nós mesmos, é importante relembrar-nos que nós somos seres humanos sensíveis.
E, que essa sensibilidade se expressa através dos sentimentos negativos, que
consequentemente, caso não consigamos fazer o exercício de desapego,
conduzem-nos a pensamentos incapacitantes. Com este conhecimento em mente,
importa levá-lo em consideração e relembrar a nós mesmos que somos humanos, e
como tal, sentimos a vida, nos bons e nos maus momentos. Apoie-se a você mesmo.
Aguente firme o seu desespero, sem autodepreciações. Invista em si mesmo, seja o seu maior aliado.
Seja compassivo com a sua dor, dificuldades e angústias.
Podemos deliberadamente procurar experiências internas e
externas que nos trazem alegria e conforto, as memórias de momentos felizes com
as pessoas que amamos, a beleza da natureza, autoexpressão criativa. Esses
recursos podem ajudar-nos a navegar os sentimentos difíceis enquanto
permanecemos focados no presente.
Abraço
AUTOR MIGUEL LUCA
Nenhum comentário:
Postar um comentário