Como
lidar com os pensamentos na meditação e no dia a dia
Para a pessoa que não tem o hábito de meditar, acredita que
ela e os pensamentos são a mesma coisa. E quando o pensamento vem, é como se
fosse a última verdade do universo, até que todas as possibilidades apontado
por aquele pensamento se esgote e dê o lugar para outro pensamento e assim de
forma sucessiva.
Essa identificação com os sucessivos pensamentos, que
normalmente não tem fim, nos coloca na chamada espiral do sofrimento.
Incrível ou absurdo que possa parecer, nós temos a
capacidade, de provocar estresse em nós mesmos, porque sofremos antes, durante
e depois de um evento real ou não.
Dizem que passado o terremoto de Lisboa (1755), o rei Dom
José perguntou ao General Pedro D. Almeida, Marquês de Alorna, o que se havia
de fazer.
Ele respondeu ao rei:
Resultado de imagem para "Sepultar os mortos; cuidar
dos vivos; fechar os portos"
Essa resposta simples, direta e objetiva nos dá uma linda
reflexão.
E por falar em reflexão, a reflexão é um pensamento
dirigido, consciente, que nos trás conhecimento, profundidade, sabedoria,
diferente do pensamento compulsivo, catastrófico, aleatório.
Os terremotos podemos comparar com aqueles acontecimentos na
nossa vida, que são inesperados e fogem do nosso controle.
Um atraso. Um acidente. Uma doença. Um prazo curto para
entregar um trabalho. Uma crítica. Uma demissão. Uma venda cancelada. Enfim...
qualquer coisa do nosso dia que não deu certo e que todos nós estamos sujeitos.
O problema nessas situações é que muitas vezes, perdemos a
capacidade de raciocinar de forma simples e objetiva.
O que fazer?
Exatamente o que disse o Marquês de Alorna: Sepultar os
mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos.
Sepultar os mortos significa não ficar discutindo, chorando e reclamando o passado, aquilo que não deu
certo.
Passou o terremoto, temos que cuidar dos vivos, cuidar do
presente, cuidar do que ficou vivo, do
que sobrou, do que realmente existe. Fazer o que deve ser feito para salvar o
que restou daquele terremoto ou daquela situação, sem entrar no drama; reunir
pessoas e bens, dependendo da situação, para reorganizar aquela situação,
evento ou seja o que for.
Quando focamos demais naquilo que não deu certo, não temos a
energia suficiente, para focarmos no presente, e reconstruir o novo.
As vezes, as pessoas, ficam anos e anos presas, em um
passado que não deu certo, seja um relacionamento, uma demissão, uma falência,
uma traição, etc., vivem o tempo todo
numa ilusão do que poderia não ter ocorrido e não conseguem energia para um
novo recomeço.
E fechar os portos?
Um dos significados que podemos dar é não permitir que novos
problemas/pensamentos nos desviem de cuidar dos vivos, do momento presente,
daquilo que restou, de fazer o que realmente deve ser feito, sem nos desviar e
deixar ser levados por novos pensamentos, dramas, etc., criando novos
sofrimentos em cima dos sofrimentos já existentes e nos prendendo aos mortos
(passado).
Podemos usar isso em
coisas pequenas do nosso dia.
Estamos fervendo o leite e como sempre, estamos com pressa.
Para ganhar tempo, ou para disfarçar a impaciência,
aproveitamos para olhar algumas mensagens.
Mas ... justamente quando paramos de olhar, o leite subiu e
começou a derramar?
O que fazer?
Adianta reclamar? Gritar? Descabelar? Lamentar?
Sepultar os mortos significa - limpar o fogão, salvar o que
sobrou do leite e pegar outro leite (cuidar dos vivos/ir para ação) e para isso
precisamos fechar os portos, ou seja, estar atentos e não se envolver com os
dramas mentais que surgem com a situação.
Mas, o que isso tem a ver com a meditação mildfulness?
TUDO a VER.
A meditação nos ajuda a nos separar dos pensamentos e/ou ter
a percepção, que não somos os pensamentos, e a partir dai temos a liberdade de
embarcar ou não naquele pensamento/emoção.
Em outras palavras, trazendo o principio da meditação para
as nossas atividades do dia a dia, vamos desenvolvendo a habilidade em separar
os fatos em si, dos pensamentos/emoções que surgem sobre os fatos, compreende?
O fato - o leite
derramou...
Estou com pressa! Vou me atrasar! Sujou o fogão! Queimou a
caneca! O leite que sobrou ficou com gosto terrível! Não vou tomar mais o café...
e todos esses possíveis pensamentos, acompanhados com os sentimentos e sensações
é o que agregamos ao fato e que nos trás o sofrimento.
A meditação formal é como um experimento/treinamento que fazemos em um laboratório e a informal é
quando pegamos esse principio e levamos a campo, em situações adversas, que não
temos controle e por isso, exige persistência e paciência e um olhar desafiador
e de abertura para o nosso dia.
Como lidar com os pensamentos durante a meditação ...
A psicologa Dra Daniela Sopezki fala de algumas estrategias:
Estamos sentados praticando uma técnica de meditação e surge
um pensamento:
O que fazer?
1)
Brigar com o pensamento?
Pensamento - Tenho tanta coisa para fazer e estou aqui
perdendo tempo meditando.
Pensamento - some daqui! Não importa que eu tenho tantas
coisas para fazer, agora quero meditar!
Normalmente não funciona. Tudo que resiste, persiste. Quando
rechaçamos o pensamentos continua orbitando e insistindo na nossa mente,
provocando mais tensão ainda.
2)
Dialogar com o pensamento?
Pensamento - Tenho tanta coisa para fazer e estou aqui
perdendo tempo meditando.
Verdade pensamento! Tenho tantas coisas para fazer, terminar
esse trabalho ... ligar para quele pessoa, marcar aquela consulta, etc., mas,
depois eu faço tudo isso...
Conversar com o pensamento, tende a não funcionar também,
porque não existe limite para isso e acabamos embarcando e viajando naquele
pensamento e desligamos da meditação e também pode vir um certo grau de
ansiedade, atrapalhando o processo meditativo.
Os pensamentos acabam nos seduzindo e não vão embora.
Vamos recordar um conceito básico de mindfulness:
Prestar atenção, reagir sem julgamentos e com aceitação e
amabilidade.
3)
Reconhecer, agradecer e soltar o pensamento.
Pensamento - Tenho tanta coisa para fazer e estou aqui
perdendo tempo meditando.
Oi pensamento! Reconheço a sua preocupação e agradeço a
lembrança e soltar o pensamento e como soltar?
Voltando para meditação, focando na âncora (respiração/corpo).
Brigar e dialogar com o pensamento não resolve e
mindfulness, vai mais nessa linha, notar, agradecer e deixar passar.
Outra estratégia:
4)
Etiquetar os pensamentos.
Tem pensamentos que são preocupações, ruminações,
planejamentos, catastroficações, lembranças, etc,
Uma forma é nomear esses pensamentos que vão surgindo... olá
minha velha cobrança, meu crítico interno, meu juiz, minha secretária ... fazer
isso sem se perder nos rótulos ou em pensamentos, querendo rotular outros
pensamentos.
Ou simplesmente, quando os pensamento surgem ... podemos
repetir ... pensando, pensando, pensando e até o pensamento sumir e em seguida
voltar para âncora.
5) Usar
alguma metáfora
A mente como se fosse o céu e os pensamentos como nuvens
passageiras, ou os pensamentos são como os vagões de um trem...
Na prática meditativa, seria observar esses pensamentos que
vão e vem sem se identificar com eles, descolar desses pensamentos, e ser um
observador dos conteúdos que a mente vai jogando, idéias, imagens, lembranças,
e atentos a isso, poder reconhecer e soltar, e o soltar é fazer uma escolha, e
na meditação formal é voltar para o corpo, para as sensações, para a respiração,
movimento etc.
Particularmente uso mais essa técnica, a não ser que, isso não
seja suficiente e o pensamento não vai embora, dai uso outra estrategia.
Como lidar com os pensamentos durante o dia ...
O interessante de tudo isso, é trazer esse principio que
praticamos durante a pratica formal, para o nosso dia a dia e é justamente ai,
que o mindfullnes, é altamente eficiente para o controle do estresse e para
trazer clareza. lucidez, energia, consciência, alegria, criatividade e
sobretudo nos trazendo escolhas, o que não
acontece quando agimos/reagimos no piloto automático.
Para finalizar, segue um relato de algo prático, que
vivenciei essa semana no meu dia ao colocar em prática esses princípios.
No final do dia fui conferir um serviço que acreditava que
tinha feito uma parte dele, para programar a atividade do dia seguinte.
Ao olhar nas prateleiras, não encontrei o que procurava.
Puxa! Achei que havia começado e amanhã tenho que começar do
zero.
Fui embora e no caminho o pensamento surgiu e comecei a
dialogar com ele.
Quando mais dialogava, mais forte ele ficava e buscava na
memória alguma lembrança, para justificar que havia feito.
No dia seguinte, indo ao trabalho o pensamento surgiu, mas
simplesmente rechacei, porque não encontrei o trabalho feito e teria que fazê-lo.
Porém aquele pensamento continuou orbitando na mente ...
indo e vindo e eu não dava atenção, apenas notava seu movimento.
Chegou um momento, em que eu percebi, que havia em mim uma
tensão.
Observei aquela tensão e por de trás ... aquele pensamento
... eu tinha feito aquele trabalho.
Dai eu coloquei em prática outra estratégia.
Pensamento eu te reconheço. Você tem toda razão! Realmente
acreditava que havia feito, mas não encontrei...te agradeço!
Incrível! Como se fosse um passe de mágica aquela tensão
sumiu e veio uma tranquilidade, uma serenidade em seu lugar.
Eureka! Isso realmente funciona.
Para
finalizar:
Sim, isso é mindfulness!
Aprender a sair do piloto automático e ter liberdade de
escolha.
Texto
desenvolvido baseado/inspirado nos ensinamento dado pela psicóloga Dra. Daniela
Sopezki, no terceiro módulo do curso Mindfulness e Redução do Estresse.
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