ILUMINAÇÃO
OU CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Em
muitos homens, a mente espiritual se revela lenta e gradualmente, e ainda que a
pessoa possa sentir um constante aumento de conhecimento e consciência
espiritual, pode não haver experimentado uma notada e repentina mudança.
Outros
têm tido momentos do que é conhecido como iluminação, nos quais se acreditavam
elevados quase fora do seu estado normal, e lhes parecia passar a um plano de
existência ou de consciência mais elevado, que os deixava mais adiantados do
que antes, ainda que não pudessem trazer à sua consciência uma clara recordação
do que haviam experimentado, enquanto se encontravam nesse exaltado estado da
mente. Essas experiências têm-se dado com muitas pessoas, em diferentes formas
e graus, de todas as crenças religiosas, e têm sido geralmente associadas a
algum aspecto da crença religiosa particular, professada pela pessoa que
experimenta a iluminação. Mas os ocultistas adiantados reconhecem todas essas
experiências como diferentes formas de uma só e mesma coisa - o amanhecer da
consciência espiritual - o desenvolvimento da mente espiritual.
Alguns
escritores têm chamado a esta experiência consciência cósmica, nome muito
apropriado, pois a iluminação - pelo menos em seus aspectos mais elevados - põe
o indivíduo em contato com a totalidade de Vida, fazendo sentir um sensação de
parentesco com toda a Vida, alta ou baixa, grande ou pequena, boa ou má.
Essas
experiências, como é natural, variam materialmente conforme o grau de
desenvolvimento individual, sua preparação prévia, seu temperamento etc.; mas certas
características são comuns a todas. O sentimento mais comum é o da posse quase
completa do conhecimento de todas as coisas - quase onisciência. Esse
sentimento existe apenas por um momento e nos deixa, a princípio, submersos em
profunda pena pelo que chegamos a ver e que perdemos.
Outro sentimento
comumente experimentado é o da certeza da imortalidade, - uma sensação de atual
ser - a certeza de haver sido sempre e a de estar destinado a sempre ser. Outro
sentimento é o do desaparecimento de todo temor e da aquisição de um sentimento
de certeza, segurança e confiança, e que estão além da compreensão daqueles que
jamais o experimentaram. Então, um sentimento de amor nos inunda - um amor que
abarca a Vida toda , desde os mais próximos a nós, na carne, até aos das mais
longínquas partes do Universo - desde aquilo que nós consideramos puro e santo,
até aquilo que o mundo considera vil, malvado e completamente indigno. Esse
sentimento de retidão própria, que induz a condenar os outros, desaparece, e o
amor, como a luz do sol, derrama-se sobre tudo que vive, sem ter em conta o seu
grau de desenvolvimento ou bondade.
A
alguns, essas experiências chegaram como um profundo sentimento de reverência
que tomou completa posse deles, por alguns momentos ou mais tempo, enquanto que
a outros se afigurava que se achavam num sonho e chegaram a ser conscientes de
uma exaltação espiritual, acompanhada de uma sensação de estar circundando os
compenetrados por uma luz brilhante.
A
alguns, certas verdades se têm revelado sob a forma de símbolos, cujo
significado não se tornou evidente senão muito tempo depois.
Essas
experiências produzem uma mudança na mente daquele que passa por elas e que
depois nunca torna a ser o mesmo homem que de antes. Ainda que a recordação
vívida desapareça, fica ali certa reminiscência que, por longo tempo, será para
ele um manancial de bem estar e de força, especialmente quando a sua fé vacila
e se sente agitado, como uma cana, pelos ventos de opiniões em conflito e
especulações do intelecto. A lembrança de tal experiência é uma fonte de
renovada energia - um porto de refúgio, ao qual as almas fatigadas acodem para
amparar-se do mundo externo que não as compreende.
Tais
experiências são também usualmente acompanhadas de uma sensação de intensa
alegria; de fato, a palavra e o pensamento de alegria parecem ser o que
predomina na mente, nesta época. Mas não é uma alegria de experiência ordinária
- é alguma coisa que não pode ser sonhada senão depois de havê-la experimentado
- uma alegria cuja lembrança estimulará o sangue e fará palpitar o coração,
todas as vezes que a mente relembrar a experiência.
Como já
dissemos, também se experimenta a sensação de um conhecimento de todas as
coisas, uma iluminação intelectual impossível de descrever. Nos escritos dos antigos
filósofos de todas as raças, nos cantos dos grandes poetas de todos os povos,
nas prédicas dos profetas de todas as religiões e tempos, podemos encontrar
rasgos desta iluminação experimentada por eles - esse desenvolvimento da
consciência espiritual. Não temos espaço para detalhar esses numerosos
exemplos. Uns disseram-nos de um modo, outros de outro, mas todos dizem
praticamente a mesma história. Todos os que têm experimentado essa iluminação,
ainda que fosse em débil grau, reconhecem a mesma experiência na relação, canto
ou prédica de outro, ainda que entre eles hajam decorridos séculos. É o canto
da alma que, uma vez ouvido, jamais é esquecido. Ainda que seja expresso pelos
toscos instrumentos das raças semi-bárbaras ou pelos mais aperfeiçoados talentos
musicais da atualidade, seus tons são claramente reconhecidos.
Vem o
canto do velho Egito, - da Índia de todas as idades - da antiga Grécia e Roma,
- dos primitivos santos cristãos - dos Quarkers Friends, - dos mosteiros
católicos - das mesquitas maometanas - do filósofo chinês - das lendas do índio
americano, herói profeta, - é sempre o mesmo tom, elevando-se mais e mais alto,
à proporção que muitos mais o entoam e agregam suas vozes ou dos sons de seus
instrumentos ao grande coro.
Aquele
tão mal compreendido poeta ocidental, Walt Whitman, sabia o que dizia (como
compreendemos nós), quando prorrompia e expressava em singular verso a sua
estranha experiência. Lêde o que ele diz e verificai se já foi alguma vez
melhor expresso:
"Como
num desmaio, um instante,
Outro
sol inefável me deslumbra,
E todos
os orbes conheci, e orbes mais brilhantes desconhecidos,
Um
instante da futura terra, terra do céu."
E
quando sai do seu êxtase, exclama:
"Não
posso estar acordado, porque nada me olha como antes,
Ou
então estou acordado por primeira vez, e tudo de antes foi simples sonho."
E nós
devemos concordar com ele, quando declara a inabilidade do homem para descrever
inteligentemente isso, nestas palavras:
"Quanto
melhor quero expressar-me, menos posso,
Minha
língua não se move sobre sua ponta,
Meu
alento não obedece aos seus órgãos,
E fico
mudo."
Que
essa grande alegria da iluminação seja vossa, queridos estudantes. E vossa será
no seu tempo oportuno. Quando ela chegar, não vos alarmeis, e quando vos abandonar,
não lamenteis sua perda - voltará outra vez. Vivei elevando-vos acessíveis à
sua influência. Estais sempre dispostos a escutar a voz do silêncio, prontos
sempre a responder ao toque da Mão Invisível.
Não
torneis a temer, porque convosco tendes sempre o Ser Real que é uma chispa da
Chama Divina, e o qual será como uma lâmpada que iluminará o caminho a vossos
pés.
A paz
seja convosco.
- Por
Iogue Ramacháraca -
(Texto
extraído do livro "Catorze Lições de Filosofia Iogue", do Iogue
Ramacháraca; Editora Pensamento)
Nota de
Wagner Borges: Esse texto foi distribuído originalmente para uma turma de
alunos num curso sobre projeção da consciência (Viagem astral). Na ocasião, eu
comentava com eles sobre as expansões da consciência (samadhi, satori, consciência
cósmica). Para ilustrar o tema, passei o brilhante texto de Ramacháraca para a
turma estudar.
É um
texto do início do século 20, editado originalmente na Inglaterra. Seu autor é
o escritor William Walker Atikinsons (que usava o pseudônimo de Iogue Ramacháraca).
Fala do estado de consciência cósmica e de suas repercussões no ser humano.
Parece
estranho falar de um assunto desses no meio de tanta encrenca que acontece no
viver diário da maioria das pessoas. Mas é melhor falar de algo assim do que
compactuar com as pesadas vibrações do pessimismo e da falta de alegria.
Textos
assim mantém a chama acesa em nosso coração e nos levam a reflexões profundas,
típicas de quem almeja a ampliação da lucidez, do amor e do brilho em todas as
dimensões.
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