Khem
e os Gatos no Egito
Os
GATOS E KHEM
No
antigo Egito, o gato era venerado como um deus, encarnado na cabeça de Bastet.
Deusa da caça, da boa saúde, da fertilidade, do amor, da alegria, da dança e da
luz; filha do Deus Sol. Representada com a cabeça de felino e corpo de mulher,
trazia numa das mãos um sistro, instrumento de percussão usado pelas
bailarinas, e, na outra, a cabeça da deusa leoa Sekhmet. Esta era, na verdade,
a sua contraparte: quando Bastet se enfurecia transformava-se na terrível
Sekhmet uma leoa que punha fogo pela garganta.
Passada
da cólera metamorfoseava-se novamente em gata, reassumindo sua docilidade.
Bastet era sempre representada com uma ninhada de gatinhos a seus pés para
simbolizar a fertilidade. Não é sem razão que os egípcios deram a Bastet, o
aspecto de gata. Pois é um animal notável de resistência, de saúde e
fertilidade. Bastet significa "a-de-Bast" era a cidade onde se
situava o principal templo dedicado aos gatos e para onde, todas as Primaveras,
convergiam mais de 500 mil pessoas para assistirem ao festival sagrado.
Cerca
de 100 mil gatos mumificados eram enterrados em cada festival, em honra da
felina "virgem-deusa" (a qual foi presumidamente segundo alguns
sectários, a precursora da Virgem Maria). Os festivais de Bastet eram
conhecidos como os mais populares e desejados em todo o antigo Egito, como um
sucesso, talvez não totalmente alheio ao fato de incluir selvagens celebridades
orgíacas e "frenéticos rituais".
O culto
do gato era tão popular que subsistiu durante perto de 2000 anos. Os gatos eram
enfeitados com jóias e perfumados com as mais finas essências. Foram os
egípcios, alias, que os domesticaram há 5.000 anos, quando capturavam gatos
selvagens no norte da áfrica e os usavam para proteger suas mercadorias da
invasão de ratos nos celeiros.
Tinha
uma cidade inteiramente sua e também um cemitério particular. (No inicio do
século foi descoberto pelos arqueologistas, um fabuloso cemitério perto de Beni
Hassan, onde repousavam há milênios 300.000 gatos embalsamados e mumificados,
nas tumbas subterrâneos). Após a morte, os gatos egípcios eram embalsamados com
todo o cerimonial, com os corpos envolvidos por faixas coloridas e o focinho
coberto por mascaras esculpidas em madeira.
Alguns
eram colocados em esquifes de madeira com a forma de um gato, enquanto outros
eram metidos em cestos de vime. Os bichanos eram mumificados e enterrados,
acompanhados de ratinhos também mumificados, que lhes deveriam servir de
alimentos no outro mundo. Quem matasse um gato no Egito era punido severamente
e os donos vestiam luto, assim como também raspavam as sobrancelhas em sinal de
luto.
Para se
ter uma idéia do prestigio dos gatos naquela época, basta lembrar que o
historiador grego Heródoto (cerca de 484 a.C. - 425 a.C.), considerado o pai da
História, afirma num de seus relatos que, quando havia um incêndio numa casa
egípcia, seus habitantes preocupavam-se "menos com o fogo e mais com os
gatos". Num incêndio a prioridade era salvar os gatos mesmo que para isso
os egípcios tivessem que arriscar a própria vida.
A
adoração dos egípcios aos gatos custou-lhes uma amarga derrota militar. O rei
persa Cambesis tomou tranqüilamente Mênfis, a cidade sagrada dos faraós,
amarrando mil gatos aos escudos de seus guerreiros. Claro que nenhum soldado do
exército egípcio ousou erguer a arma contra os seus felinos senhores, que,
aliás, foram mortos logo depois da vitória de Cambesis. Dois anos mais tarde
Cambesis morria, vitima de uma doença misteriosa.
Vingança
dos gatos? Nem todo o gato era considerado um deus, mas havia uma forma na
quais algumas das suas divindades podiam ser personalizadas. Era na forma de um
gato que o grande deus sol Ra venceu Apep, a serpente da escuridão. Desenhos
delicados de papiro mostram-no lutando contra o golpe da morte, com um punhal,
uma vitória que tinha de ser repetida todo dia, pois o Sol e a Escuridão são
imortais.
A
palavra egípcia que descrevia o gato era Mau, derivada da voz do gato. Uma
outra divindade que matava a cobra era a deusa Mafdet, apresentada na forma de
gatos nas gravuras esculpidas na parede da pirâmide da quinta e sexta dinastias,
estimado anteriormente em 2.280 a.C. como protetor do faraó. Amuletos de gato e
cabeça de gato persistiram até quase os dias atuais.
Embora
fosse proibido tirar os gatos da terra dos faraós, a incansável destreza na
perseguição aos ratos fazia deles convidados indispensáveis dos navegantes em
suas viagens para afugentar os ratos dos navios. E logo começaram a surgir
gatos na Grécia, em Roma... Na Grécia clássica, o gato foi associado à
feminilidade, ao amor e ao prazer sexual, atributos de Afrodite.
Também
foi associado à Artemis, a deusa da caça e da lua, da qual se dizia que teria
escapado um perseguidor, Tiphon, transformada em gata. Em Roma, no Império
Romano, o gato esteve ligado a várias deusas. Diana, a caçadora, governava a
fecundidade e a lua, assim como Bastet, e uma lenda antiga atribui a ela a
criação do gato. Também a sensual Vênus é representada como uma gata, uma
encarnação de emoções maternas. Não era só nas religiões egípcias e
egipto-romanas que os gatos participavam.
Os
chineses tinham um deus da agricultura em forma de gato, alias eles possuíam
estatuetas de gatos para afastar os maus espíritos; os peruanos tinham um deus
felino da cópula, e os irlandeses, um deus com a cabeça de gato. Eles também
estavam relacionados com duas deusas nórdicas. Os Hindus transformaram-no
igualmente num animal sagrado.
Os
gatos atravessaram o Oriente, e foram se instalar, pouco antes da Idade Média,
no coração da Europa. No princípio, foi muito bem recebido. Na época existia
uma ordem real, que proibindo aos habitantes de Gales, na Bretanha, a posse de
animais, à exceção do gato. Os ingleses, claro depois dos egípcios são os que
mais se apaixonaram pelos gatos, vale citar que a primeira exposição de raças
de gatos, aconteceu na Inglaterra, bem como o primeiro clube fundado.
Adoradores
confessos dos gatos até os dias atuais, podem-se encontrar-se em Londres
imponentes estatuetas de gatos, que são verdadeiros monumentos. Na França do
século XVI, o cavaleiro que quisesse conquistar uma dama, em vez de flores, lhe
oferecia um gato. Alias, no sul da França, existia a lenda dos gatos mágicos
chamados matagots, que traziam fortuna e sorte a quem os acolhia e amava. Na
Rússia os gatos também eram estimados, onde era comum serem encontrados vários
deles nos mosteiros e conventos.
O Japão
não ficou imune aos seus encantos. Os gatos chegaram ao país do sol-nascente ao
mesmo tempo em que o budismo. Residiam nos templos para protegerem dos ratos os
manuscritos sagrados. Séculos depois, no reinado do imperado Jedi-jô, no décimo
dia da quinta lua, uma gata branca pariu três gatinhos da mesma cor, no palácio
imperial de Quioto.
Maravilhado
pelo espetáculo, o imperador ordenou que fossem tratados e adulados como
crianças reais. O povo inteiro começou então imitar o soberano. Os gatos
passaram a ser cuidados com todos os desvelos, amimados e passeavam a trela
pelos jardins. De tal forma, esqueceram de caçar os ratos destruidores dos
bichos de seda. Os Japoneses recorreram então ao ersatz: desenharam figuras de
gatos nas portas das casas e fabricaram efígies do animal de madeira ou de
porcelana, antes de restituir à liberdade de todos os gatos.
Os
comerciantes japoneses costumavam ter um gato em seus navios porque, segundo
acreditavam lhes trazia boa sorte e lhes protegia dos maus espíritos do oceano,
responsáveis pela tempestade e pelo naufrágio. Uma estatueta com a forma do
gato era considerada como um poderoso amuleto.
O gato
tornou-se um animal de estimação das casas nobres e das cortes. Meio século
mais tarde, os japoneses começaram, porém a ter medo os gatos, que consideravam
como espíritos malignos ou demônios, e essas crenças refletiram se no
tratamento dado aos animais.
Uma
crença tradicional muito antiga, que radicava no antepassado dos japoneses
Ainus começou subitamente a ser levada a sério, e os japoneses passaram a
cortar a cauda aos seus gatos, pois temiam que pudessem transformar-se em
serpente quando os gatos assim o desejassem.
Do
século XIV em diante, quase todos os gatos representados em desenhos japoneses
são desprovidos de cauda. (Os gatos sem cauda dos nossos dias são, porém
resultado de uma mutação acidental e não gatos a que se tenha cortado a cauda).
No Japão, os gatos continuam a ter o seu templo privativo em Tóquio. O Bobtais
Japonês é uma raça de gato conhecida no Japão há muitos séculos.
O
Templo Gotokuji, em Tóquio, é decorado com várias fileiras superpostas de
pinturas que representam um desses gatos, chamado Maneki-Neko. Cada pintura
mostra-o com pata levantada num gesto de saudação, que se tem tornado um
símbolo de boa sorte. Essa raça distinta aparece também em numerosos escritos e
pinturas de grande fama na arte japonesa.
O
Templo Gotokuji, está rodeado por um cemitério com campas cobertas de
inscrições, onde se exprimem votos para que os gatos defuntos aí enterrados em
breve atinjam o nirvana (paraíso). Tornaram-no como tema em inúmeros quadros e
esculturas. Na Idade Média, os gatos foram apontados como um símbolo das
religiões pagãs e associado ás bruxas e demônios. E o gato que até então já era
vedete dos rituais das magas atalógicas e madames mins da época, perseguido
pela Igreja, não escapou da Inquisição .
O papa
Inocêncio VII, no final do século XV, mandou que todos os bruxos fossem
queimados junto com seus gatos, cúmplices de suas feitiçarias. Muitos foram
queimados em praça pública pelos romanos, que os consideravam agourentos. A
perseguição por parte dos cristãos se deve por causa da mitologia egípcia, os
gatos estavam então muito associados ao paganismo.
Havia
uma tendência no cristianismo de renegar tudo o que era cultuado nas
civilizações mais antigas. Milhares de gatos e de seres humanos foram
torturados e mortos. Um ato bárbaro de crueldade e ignorância. A perseguição
cristã contra os gatos permitiu um crescimento incontrolado da população de
ratos e contribuiu para a virulência das pestes disseminadas pelos ratos.
Desde
os tempos remotos, atravessando séculos e civilizações, principalmente no Egito
o gato sempre foi considerado um animal sagrado, sua figura é usada como
talismã, ligado às divindades lunares, o gato favorece a harmonia matrimonial e
a felicidade doméstica. Vale citar que Estocolmo, quando um gato perdido é
assinalado no Comissariado, logo o centro da especialidade envia um grupo de
socorro. Em Istambul, os gatos são donos e senhores das ruas e amigos
discretos, mas afetuosos dos marinheiros e dos lojistas da cidade.
Os
motoristas de táxi preferem bater num poste a atropelar um gato. O gato chegou
ao Brasil nas caravelas portuguesas, na bagagem, trazia da Europa todas as
lendas e superstições que tornaram célebre. Aqui adorado, mas também detestado
e mesmo amaldiçoado.
No jogo
do bicho, é o número 14, serve tanto ao pavão, quanto à elite, além de ser um
símbolo de azar, para alguns é claro... Acredita-se que o gato preto seja o
mais maléfico, a quem diga que tenha parte com o Diabo, e ao andar na rua se o
seu caminho é cruzado por um gato preto, logo se benze, para afastar o azar.
(Curiosamente, na Inglaterra é o oposto gato preto lá é sinal de sorte). Há
quem pense o contrário e quando não tem um exemplar vivo, tem em sua casa uma
estatueta de gato preto, acreditando estar afastando o azar.
Existem
muitas superstições... Dizem que um gato quando vai embora de casa, seu dono
não deve tentar impedi-lo, pois ele esta indo embora para levar todas as coisas
ruins daquela casa. Também se acredita que quem bate num gato sofrerá de
reumatismo. Durante séculos, no mundo inteiro os gatos conseguiram sobreviver
ao fogo e a água (milhares foram mortos nas fogueiras e nos rios). Mas apesar
da perseguição, sobreviveu perpetuado a espécie.
Talvez
por este motivo se diga que os gatos têm sete, ou nove vidas. Não há sem sombra
de dúvida nenhum animal tão martirizado em todos os tempos. Nos tempos modernos
continuam envoltos em lendas, crendices e preconceitos. Embora descendentes de
protagonistas de uma história de amor e ódio tenha hoje mais aliados, que
inimigos.
Os
celtas acreditavam que os gatos conviviam com os elementais, fazendo um elo
entre o mundo invisível e o nosso. Através dos olhos felinos, como janelas, os
homens conheciam o mundo mágico. Do outro lado, os elementais saberiam de nós
da mesma forma. Matéria recorrente nos comix e em especial nas histórias de
Neil Gaiman, a crença nos Deuses seria o sopro que os mantém eternos. Se for
verdade, BAST continua tão viva agora como há 5OOO anos atrás. Há igrejas
modernas dedicadas ao culto dos antigos deuses de Kemet, onde a Deusa Gata é
rainha.
Carlinhos
Lima – Astrólogo, Tarólogo e Pesquisador.
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