MEDICINA NATIVA
Jaguar Dourado - Wagner Frota
o início dos anos 90, quando estava realizando uma pesquisa
sobre Mitologia Primitiva, Wagner veio conhecer aquele que seria o fundador do
Clã Lobos do Cerrado e, que tornou-se seu Mestre no Xamanismo.Junto com seu
Mestre, Wagner foi um dos fundadores do Clã Lobos do Cerrado.Em 1995, ele foi
iniciado no Caminho Sagrado do Xamanismo baseado nas tradições Lakota e Seneca.
A partir daí, seguindo seus estudos, ele passou a viajar ao interior do nosso
país e ao exterior para conhecer e vivenciar diversas tradições xamânicas. Foi
numa destas jornadas ao exterior que ele conheceu Mama Júlia, sua grande
"Maestra" que o iniciou no Xamanismo Andino-Amazônico na Amazônia
Peruana e nas Montanhas Andinas, onde recebeu por fim o nome xamânico de Jaguar
Dourado.
Criador do site Lobo do Cerrado (www.xamanismo.com),
atualmente Wagner mora no Altiplano Alagoano onde realiza trabalhos xamânicos,
dirigindo grupos no Caminho Xamânico com o propósito de resgatar a essência da
força e da beleza de cada indivíduo. O seu Mundo Interior o tem levado ao
descobrimento dos conhecimentos iniciáticos dos nossos Ancestrais Nativos, onde
a virtude do poder se manifesta na doçura e suavidade da vida. É uma guia
espiritual que procura ensinar com maestria a trilharmos o caminho da luz, da
liberdade, da beleza dentro do Sagrado Caminho do Xamanismo".
Aloha!
A medicina nativa é uma das mais ricas e fascinantes
heranças culturais da América Latina. Atualmente, principalmente no meio rural,
milhares de pessoas procuram os curandeiros para aliviar seus sofrimentos,
angustias e enfermidades. Transmitido de geração em geração, através da
tradição oral que manteve viva essa bagagem de conhecimentos de milhares de
anos.
Os poderes do universo, o sagrado e o drama do ser humano
frente ao bem, ao mal, a vida e a morte estão definidos em sua estrutura
ideológica. A explicação e justificação da medicina nativa, então, se sustenta
em sua natureza espiritual. A origem das enfermidades, segundo esse sistema, se
encontra na ação de forças sobrenaturais.
Na selva amazônica e em outras regiões, para que o
Curandeiro tenha a "visão" da origem do mal, sua explicação e
possível cura, em termos gerais, deve recorrer a ingestão de substancias
alucinógenas, especialmente plantas psicotrópicas. Outros utilizam o tabaco,
porém o efeito é o mesmo: entrar em estado alterado de consciência (Estado
Xamânico de Consciência), ou seja, em realidades espirituais onde grandes
forças míticas jogam com o destino dos homens e possuem valorosos conhecimentos
e poderes sobre as enfermidades, desgraças, a cura, a fortuna, a vida e a
morte.
Geralmente, os instrumentos físicos eficazes que servem para
curar são as plantas tradicionais, os quais crêem os mestres Curandeiros têm
"alma" ou "virtudes divinas", poderes que permitem
erradicar as doenças e aleijar com "sua eficácia misteriosa" o
sofrimento e a morte. A ciência, por sua parte revela que esses vegetais têm
diversas propriedades farmacológicas de comprovada eficácia para aliviar ou
erradicar determinadas enfermidades fisiológicas. É importante destacar que os
mestres Curandeiros insistem em dizer que os remédios vegetais só atuam dentro
de seus respectivos contextos rituais, fora desse esquema, as plantas têm pouca
eficácia.
As origens desse sistema de cura remonta a milhares de anos
atrás, no período Paleolítico, quando a expressão mais arcaica da religiosidade
do ser humano se manifestou através do xamanismo.
A medicina nativa tem um enorme e fundamental ingrediente
emocional, que contribui para a cura dos males, convertendo a mente e as
energias internas do enfermo em um poderoso aliado para combater a enfermidade.
É notável a maestria dos verdadeiros Curandeiros em sua capacidade de
relacionar-se com seus pacientes e investigar a fundo seus conflitos emocionais
para logo, canalizar suas motivações e sentimentos em armas para a cura.
Os Curandeiros tem a capacidade de conhecer se o enfermo
perdeu sua alma. Então como se fosse um estranho guerreiro em missão de resgate
o Curandeiro se prepara com seus maracás, espadas, santos, punhais, perfumes e
ervas, para "lutar" contra os "espíritos malignos" durante
seus ritos, com o fim de intentar "recuperar o espírito do paciente e
restituir sua saúde".
Diante de seu atemorizado porém esperançoso paciente, a
parafernália e rituais do Curandeiro que invoca os poderes de deuses e
espíritos, contribui para que o enfermo adquira a confiança de que
"poderosas forças espirituais se converteram em seus aliados para acabar
com sua enfermidade ou sua desgraça. O Curandeiro, suado e atormentado durante
a "luta", crê de todo coração que é um canal por onde é passado os
poderes de cura dos espíritos ancestrais, da terra, da água e das montanhas. A
confiança do paciente é decisiva para a cura, especialmente aquelas
enfermidades de caráter psicossomático.
Nesse sentido, podemos verificar que não existe uma
"abordagem intimista e eficaz" na medicina ocidental moderna que é
fria e impessoal. Na maioria dos casos, na medicina nativa, os Curandeiros
trabalham as emoções mais profundas do ser humano, e se bem canalizada na
direção correta, “tem efeitos quase mágicos” na saúde. Muitos profissionais da
saúde, na atualidade se esqueceram que toda medicina se sustenta em uma trama
psicossomática relacionada com a mente e o corpo, o qual os Curandeiros sabem
muito bem, e procuram participação decisiva da mente no processo de cura. Por
essa razão, os Curandeiros são respeitados pela sua comunidade não só como
excelentes herboristas, mas também como notáveis psico-terapeutas.
O Brasil é um dos três países com maior diversidade
biológica no planeta: possui 93 zonas de vida de um total de 104 existentes em
todo o globo. Dezenas de milhares de espécies animais e vegetais, uma
extraordinária flora e fauna, durante milênios tem sido utilizados pelos
Curandeiros em suas curas e conhecimentos terapêuticos. A medicina nativa é
muito rica, porém foi muito esquecida devido ao rápido avanço do pensamento
racional. Assim se esqueceram dos usos curativos de inumeráveis plantas porque
através dos séculos só foram utilizadas dentro de herméticos contextos
mágico-religiosos. Já há algum tempo, existe um trabalho de rigoroso resgate
dos conhecimentos terapêuticos das plantas de uso tradicional no país.
Numerosas sociedades científicas têm uma atitude de profundo respeito à
medicina nativa, porém na sua busca pelos conhecimentos nativos, eles esquecem
de colocar em suas prioridades o respeito ao sistema de crenças e valores do
curandeirismo.
Profissionais de saúde visitam aldeias e comunidades para
dialogar com os Curandeiros respeitados pelo povo, as parteiras e erveiros com
a finalidade de troca de conhecimentos. Alguns institutos têm o objetivo de
articular os conhecimentos eficazes das medicinas nativa e moderna para o
melhoramento da qualidade da saúde da população. Muitas organizações estão
desenvolvendo estudos com plantas medicinais que são utilizadas na medicina
nativa, e verificando os meios legais para proteger estas espécimes. Isso se
faz necessário, pois ao se conheceram a qualidades curativas de determinadas
plantas, se inicia uma irracional exportação das mesmas, culminando num ataque
ao meio-ambiente e as comunidades indígenas.
Quase todo centro popular do país tem vendedores de ervas
que atendem qualquer enfermidade concebível, desde uma gripe, diarréias e
disfunções digestivas, feridas menores, dor de cabeça e problemas de pele, até
anemia, impotência sexual, problemas no fígado, de sangue, reumatismo,
cálculos, taquicardia, tuberculoses, obesidade, asma, depressão e “melancolia
amorosa”. Para tal se vendem, em pacotes e a preços razoáveis, inumeráveis
ervas e plantas como erva-pombinho, quebra-pedra, pólen, unha de gato, capim-santo,
boldo, sálvia, etc. A venda de ervas é a ponta do iceberg do fenômeno da
medicina nativa no meio urbano.
Não obstante, durante os últimos anos há proliferado a
existência de charlatães que utilizam a medicina nativa como meio de vida
mediante o embuste e a mentira. Esses negócios de supostos Xamãs e Curandeiros
de nomes estrambólicos que fazem das suas a expensas o desespero e ignorância
de milhares de pessoas, se encontram em locais ou escritórios, em avenidas no
centro das cidades e sua “arte” é uma combinação de leitura de cartas, venda de
estranhos amuletos, de suposta “eficácia mágica”.
A esperteza e estupidez
desses impostores se contrapõem ao ofício dos autênticos Curandeiros que, na
maioria das vezes, caladamente e quase sem interesse monetário, dedicam suas
vidas e conhecimentos a aliviar os sofrimentos e curar quase todo tipo de
enfermidades mediante ao ministro de ervas medicinais e estranhos rituais
mágico-religiosos de antiquíssima origem.
Devemos lembrar que um Curandeiro é
um verdadeiro mestre e depositário de técnicas e conhecimentos milenares
transmitidos de geração em geração. Ele tem dignidade, sabedoria e compaixão.
Munay, Wagner Frota (Jaguar Dourado um Guerreiro do Coração)
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