A luz da consciência por Diogo Beltrame
"Existe uma fórmula para curar a mente que ainda não
foi compreendida nem pelo ocidente e nem pelo oriente. Aqui, no ocidente, as
técnicas terapêuticas pregam a analise de todo o passado. A pessoa é estimulada
a passar toda a sua vida numa peneira. Ela precisa analisar todo o seu passado,
de cabo a rabo, até eliminar toda memória causadora do sofrimento, e esse não é
o caminho.
Analisar e compreender as causas tem lá a sua valia, mas não basta,
até porque o passado é um buraco sem fundo e a pessoa precisaria de muitas
vidas para resolver todos os problemas de uma única só vida; e enquanto fizesse
isto outros novos problemas surgiriam e precisariam ser resolvidos em outras
vidas adiantes. Isso é impossível de ser feito. Fazer isso é o mesmo que tentar
secar uma geleira.
Portanto, você mesmo
estará dando comida para o lobo mal do qual sente tanto medo. Entenda bem,
compreender as causas dos seus problemas é importante. É impossível transcender
algo que você não sabe o que é. Mas, tentar mudar o passado, ou fazer de conta
que ele não foi tão ruim quanto você pensa é ilusão, é mentira. E na mentira
nada se resolve.
É bem provável que a sua raiva atual esteja relacionada com
algo que aconteceu em seu passado. A raiva tem que nascer em algum momento, e
isso representa algo que já passou. Mas e daí? O que importa onde ela nasceu? E
se essa raiva veio de outra vida? E se essa raiva veio de uma vida bem
distante? Quantas regressões terão que ser feitas para se chegar até a causa
principal dela?
Percebe o tamanho do buraco que você estará entrando?
Mais importante do que saber o "onde" algo surgiu,
é aprender "como" lidar com ele. Isto é, estar consciente do que
acontece com você e praticar o testemunho disto. Quando você é uma testemunha
das energias que estão dentro de você, automaticamente estará consciente de
cada uma delas, e não existe espaço para a consciência e para a raiva ocuparem
simultaneamente. Só existe espaço para uma delas. Se você está consciente a
raiva não pode estar presente. Se a raiva está presente você não está
consciente. Onde tem consciência só existe consciencia. Consciência é luz, e na
luz não existe escuridão. Nenhuma escuridão pode existir onde a luz está
presente. A luz ilumina tudo, e o que está claro não pode ser ameaçador.
Torne-se consciente da sua raiva e ela irá embora. Torne-se
consciente do seu medo e ele irá embora. Onde a consciência está presente nada
pode existir que não seja ela mesma. Você só tropeça no escuro. No claro você
não tropeça. A raiva, o ciúme, a insegurança e a avareza são peças jogadas num
quarto. Se o quarto está no escuro você tropeça nelas, mas, se a luz está
acesa, não.
Portanto, o caminho para a cura mental é a compreensão do
que aconteceu e dos impactos disto em sua vida, mas, principalmente, da
observação sem julgamento de tudo o que você sente. Ou seja, sendo uma
testemunha de si mesmo, sendo aquele que está no alto de uma montanha
observando tudo o que acontece nela, mas sem interferir na natureza que as
acompanha.
E como estar consciente a partir da observação?
O passado é um peso morto. Ele é um fardo que você carrega
junto de si, para cima e para baixo, como se fosse uma sombra.
É necessário que se encerre os ciclos vividos. Se você
terminou um relacionamento, não traga mais ele para o seu momento presente. Se
você brigou com alguém, ou se foi injustiçado, não traga essa briga ou a
sensação de ser uma vítima para o seu agora. Toda vez que você se lembra da
agressão que possa ter sofrido no passado, ao acessar essa memória, é você
mesmo que está se agredindo, e não mais aquele que o agrediu. Não importa o que
tenha acontecido ontem, ano passado, ou há dez anos atrás. Isso não é mais real
e deve ficar lá trás, e não aqui. Não importa se o passado é bom ou ruim. Você
teve ótimas e péssimas experiências, mas nenhuma delas existem mais, elas são
mortas e devem ser liberadas. Você deve se desapegar de toda essa bagagem
velha, pesada e inútil.
Trazer o passado para a sua vida é assassinar o momento
presente, pois o passado é morto e nada que esteja morto pode tocar a vida. A
vida existe, ela está acontecendo agora, mas ao trazer as suas memórias
passadas para ela, você a transformou nesse mesmo passado. Você a matou. Você
tirou a vida dela e perdeu mais uma oportunidade de experimentar essa vida.
Você fez muitas viagens deste que chegou aqui, neste planeta,
nessa vida. A sua roupa está cheia de pó. Ela está suja, muito suja. Não é mais
possível distinguir a roupa da sujeira, aparentemente elas são uma coisa só. A
roupa é a mente. A poeira são as memórias. E não adianta mais tentar lavar essa
roupa.
Quando alguma coisa está encardida não adianta lavá-la, não adianta
colocar uma série de produtos químicos para limpá-la, pois pode até ser que as
manchas saiam, mas outras serão deixadas por causa dos produtos que foram
usados para limpá-la e, por isso, continuarão sujas. Portanto não as lave,
arranque essas roupas e jogue-as fora, simplesmente. Saiba que por trás dessas
roupas existe algo.
Talvez você tenha esquecido porque está muito acostumado a
usar roupas. Você está identificado com essas roupas sujas e acha que elas são
parte do seu ser, mas não são. Por trás das roupas existe você, e, mesmo que
você se confunda com elas, elas nunca poderão ser você. O que você é não pode
ser mudado por nada que o encubra.
Saiba que, para se abrir ao novo, é necessário que antes
você abandone o velho. É necessário soltar as memórias, todas elas. Você vive
julgando e rotulando tudo o que vê porque traz as memórias do passado, isto é,
aquilo que você viveu e classificou naquela ocasião para o seu momento
presente. Ou seja, traz as suas percepções para tudo aquilo que se apresenta em
sua vida e, por isso, acaba deixando de ver o real para que, a partir da
limitação criada pela sua crença, projete todas as suas memórias naquilo que
presencia ou vive no momento atual, reproduzindo todas as mesmas situações
desgastantes do passado e, muitas vezes, sem se dar conta disto.
Se você teve
um relacionamento difícil, tende a projetar esse mesmo relacionamento
frustrante do passado em seu presente. Se você teve um chefe ordinário, tende a
reproduzir essa mesma realidade em seu novo emprego. Não adianta mudar o
cenário nem os personagens, você sempre vai atrair para a sua vida o que
acredita ser real. A vida não acontece de acordo com o que você quer, ela
acontece de acordo com aquilo que você é. A sua vida é o que você acredita ser.
Você atrai para a sua realidade tudo que ressoa com seu campo vibratório.
Portanto, não adianta querer fugir das experiências passadas negando-as e
chamando-as de ruins, pois, enquanto a memórias estiverem ativas e com uma
crença equivocada sobre determinado assunto, tudo se repetira, até que você
resolva curar e liberar.
A mente só identifica o que ela conhece, e o que ela conhece
é aquilo que você viveu, seja essa experiência positiva ou negativa, portanto,
a sua mente sempre irá buscar novas experiências que sejam similares as do
passado. Esse é o papel da mente, e isso só muda quando você libera tais
memórias entendendo que elas são apenas "memórias" e que, portanto,
devem ser neutras.
O ser humano se tornou uma máquina de reproduzir o passado
para o presente. Você se tornou incapaz de enxergar a realidade que
simplesmente é. E, enquanto isso acontecer, a vida e o encanto virgem que
caminha com ela não se mostrará a você.
Viver o momento presente é mais do que se fixar no agora e
tentar não pensar. Ele é, antes de qualquer outra coisa, a alteração da sua
percepção sobre o tempo.
Viver o agora é permitir que novas experiências entrem em
sua vida sem distorcê-las de acordo com a sua percepção; é estar aberto para
conhecer o novo, assim como uma criança o faz, tendo a oportunidade de voltar a
se encantar com a simples, porém, bela e graciosa vida que se apresenta a cada
instante diante de você."
Diogo Beltrame
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