Atena e a elevação espiritual
Por: Hellen Reis Mourão
Atena, também conhecida como Palas Atena e como Minerva em
Roma, é na mitologia grega, uma das principais divindades do panteão grego e
uma dos doze deuses olímpicos. É a deusa da guerra, da civilização, da
sabedoria, da estratégia, das artes, da justiça e da habilidade.
Em seu mito mais conhecido ela é filha de Zeus, nascendo de
sua cabeça plenamente armada. Ela não conheceu sua mãe, Métis.
Em As Deusas e a mulheres, Jean Shinoda Bolen cita:
“Como relata Hesíodo, Métis foi a primeira esposa real de
Zeus, uma divindade do oceano, que ficou conhecida por sua sabedoria. Quando
Métis estava grávida de Atenas, Zeus a enganou tornando-a pequenina e a
engoliu. Foi profetizado que Métis teria dois filhos muito especiais: um a
filha igual a Zeus em coragem e sábia resolução, e um filho, um rapaz de
coração totalmente cativante, que se tornaria rei dos deuses e dos homens. Ao
engolir Métis, Zeus contrariou o destino e assumiu o controle dos atributos
dela como se fossem seus.”
Tão logo saiu da cabeça do pai, soltou um grito de guerra e
se engajou ao lado do mesmo na luta contra os Gigantes.
Como deusa da guerra Atena é a perfeita antítese de Ares, o
outro deus encarregado desta atividade. Atena é dotada de profunda sabedoria e
conhece todas as artes da estratégia, enquanto que Ares carece de bom senso,
prima pela ação impulsiva, descontrolada e violenta, e às vezes, no calor do
combate, mal sabe distinguir entre aliados e inimigos. Por isso Ares é
desprezado por todos os deuses, enquanto que Atena é universalmente respeitada
e admirada.
Atena é complexa e cheia de nuances, enquanto guerreira era
defensora das cidades, mas também tinha características de Grande Mãe, sendo
uma deusa da fertilidade do solo, devido ao fato de estar ligada a Dioniso
quando solenemente se levavam a ela ramos de videira carregados de uvas. E
também na disputa com Posseidon pelo domínio da Ática e, de Atenas, onde ela
fez brotar da terra a oliveira, sendo, por isso, considerada como a inventora
do "óleo sagrado da azeitona".
Mas antes de qualquer coisa, ela é a deusa da inteligência,
da razão, do equilíbrio, da sabedoria, da diplomacia e do espírito criativo.
Ela submete a guerra ao intelecto, à disciplina e à ordem. Ela equilibra
justiça e razão.
Atena é aquela que cria a cultura e a civilização. Ela
preside às artes, à literatura e à filosofia, à música e a toda e qualquer
atividade do espírito. Ela também preside aos trabalhos femininos da fiação, tecelagem
e bordado.
Conforme Junito Brandão em Mitologia Grega Vol 2, o perfil
de Atena, como o de Zeus e o de Apolo, evoluiu consideravelmente, de maneira
constante e progressiva, no sentido de uma espiritualização. Ela evoluiu de mãe
ctônica a um perfil de mulher inatingível que inspira os homens na luta.
Atena, então se configura como o arquétipo da Anima,
enquanto Sofia, ou seja, aquela que inspira o homem. Em sua mitologia esse
aspecto inspirador se manifesta nos mitos de Aquiles, Héracles, Perseu e Ulisses.
Atena concedeu sua proteção a esses heróis, concedendo a sabedoria do espírito
à força bruta, levando a conseqüente transformação da personalidade do herói e
à vitória.
Arquétipo, então da inteligência socializada, da
espiritualização das emoções, da racionalidade. Não tendo mãe, e nascendo da
cabeça de Zeus, Atena representa também o patriarcado, com suas leis e
estratégias, isso está evidente quando Atena tomou o partido do patriarcado,
dando o voto decisivo a Orestes.
Orestes tinha matado sua mãe Clitemnestra para vingar o
assassinato de seu pai Agamêmnon. Apolo falou em defesa de Orestes, alegando
que a mãe era apenas a nutridora da semente plantada pelo pai, proclamou o
princípio de que o macho predomina sobre a fêmea e citou como prova o nascimento
de Atena que não nascera do ventre de uma mulher. O voto dos jurados foi
empatado quando Atena deu o voto decisivo.
Atena representa a nossa curiosidade intelectual, nossa
necessidade de socialização e realização no mundo. Quando esse arquétipo é
ativado sentimos necessidade de instrução, de uma busca de conhecimento mais
elevado.
O grande problema de uma identificação unilateral com esse
arquétipo está na repressão exacerbada das emoções. Atena repudiava
manifestações desenfreadas das emoções, ela era comedida. Entretanto, o não
reconhecimento das emoções gera neurose e até somatizações.
O mecanismo de defesa utilizado pelo ego, nesse caso, é o da
racionalização. O que faz o individuo se manter longe de qualquer espécie de
sofrimento. O individuo começa a ter pouca intensidade emocional, atração
erótica, intimidade, paixão ou êxtase.
A mulher que se identifica com esse arquétipo e não se abre
a outras possibilidades, focando apenas em seus estudos e carreira pode se
tornar intragável. Ela passa a desprezar as outras mulheres e a preferir apenas
o contato com os homens, que são vistos como aliados.
A sombra de Atena se apresenta no mito da górgona Medusa. A
deusa usava em seu escudo a cabeça da Medusa que foi morta por Perseu, graças a
sua ajuda.
A Medusa é um complexo que petrifica, tirando a vitalidade,
espontaneidade e qualquer forma de vida do indivíduo. Ela desvitaliza com o seu
olhar, transformando a vida em pedra.
As emoções renegadas se tornaram um complexo autônomo
inconsciente. Somente quando Atena encara, com a ajuda de Perseu, essas emoções
renegadas, ela passa a conhecê-las e a ter controle sobre elas
Conforme Junito Brandão em Mitologia Grega Vol2, a cabeça de
Medusa colocada no centro de seu escudo é como um espelho da verdade, para
combater seus adversários, petrificando-os de horror, ao contemplarem sua
própria imagem.
Atena passa então a utilizar as emoções destrutivas ao seu
favor, no momento correto, sem reprimi-las no inconsciente.
Portanto, esse arquétipo é que nos permite manter a calma,
quando estamos a ponto de explodir em uma situação de forte carga emocional e
assim desenvolver boas táticas em meio aos conflitos, e dessa forma enxergarmos
com mais clareza situações em que antes ficávamos “cegos”.
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