2016 – ANO QUE EXIGIU DA GENTE CORAGEM
Clara Baccarin
2016, eu não sei que dança maluca de astros foi essa, mas é
fato que 10 de 10 pessoas que eu pergunto como foi o ano respondem algo como:
tenso, denso, intenso.
Parece que nesse ano a vida pegou pesado com a gente,
exigindo aprendizados e evoluções, pedindo que cumpríssemos lições antigas, que
entendêssemos um pouco melhor nossa missão, que fechássemos ciclos e nos
reinventássemos.
Aqueles velhos desafios, aquelas provas que a gente deixava
pra depois, aquele contato com o nosso profundo que não ousávamos ter,
desculpando-nos com a falta de tempo e com o acúmulo das tarefas importantes da
vida, neste ano não tivemos como prorrogar de novo.
Agora é a sua verdade ou o mundo te atropelando.
Ano que exigiu da gente coragem: os mais humildes tiveram
que aprender a impor limites, a falar não, a amar mais a si próprios, a
expressar opiniões, a mostrar a voz.
Como nunca, o mundo precisou ouvir os que têm a alma mais
serena e andaram se escondendo nas sombras dos grandes egos.
Também exigiu coragem dos mais vaidosos e imodestos: esses
tiveram que aprender a ouvir, a flexibilizar suas verdades, a ver que tudo é
relativo.
A vida deu tantas chances, muitas vezes nada fáceis, mas as
possibilidades de crescimento estavam aí. Muita gente empacou no espaço sem
forma entre as mortes de hábitos e personalidades e o renascimento de si mesmo.
Mas a vida estava aí disposta a ajudar nessa evolução, pelo
amor ou pela dor.
Algumas pessoas tiveram coragem de atravessar os próprios
desafios.
Ano de tantos lutos este, de fechamento de ciclos.
Feliz de quem, apesar das lutas, das dores, das mudanças
inevitáveis e difíceis, escolheu sair do casulo e borboletar-se, e experimentar
as novas asas. Feliz de quem se descobriu, despiu e libertou.
Feliz de quem perdeu um pouco a noção do próprio umbigo e
desenvolveu um olhar mais consciente para o íntimo.
2016 nos pediu para sermos rápidos, foi curso intensivo sem
férias, foi o agora ou nunca pra tanta coisa.
O universo político deu tantas voltas e reviravoltas, e teve
gente que começou a perceber que antes de revolucionar o mundo, precisamos
revolucionar a nós mesmos.
A micropolítica despontou mais forte, as atuações nos
pequenos grupos, como cidadãos, como entidades dividindo este planeta com
tantos outros seres, como a importância de olhar para fora da própria bolha de
proteção e fazer o que se pode no seu metro quadrado de existência.
Foi o ano do salve-se quem puder, e quem sacou que primeiro
deve-se colocar a máscara de oxigênio em si mesmo, pôde ajudar melhor ao
próximo, quem aprendeu a autoconectar-se e parou com a corrente elétrica de
sugação energética, termina o ano de alma lavada.
Quem parou de buscar no outro e no mundo complementos para o
próprio vazio e percebeu que as fontes são internas, evoluiu.
2016 foi um ano de passagem, foi escuro, mas com o vislumbre
da luz no fim do túnel, teve gente que preferiu parar no meio do caminho,
fechar os olhos e se agarrar nas paredes daquilo que já não são mais.
Outros, no entanto, estão colhendo os frutos de suas
coragens, acompanhando a dança de um mundo que se transforma por completo.
Ano do desapego, que gerou grandes dores mas também grandes
libertações porque nos empurrou mais pra perto da nossa própria verdade
essencial.
Clara Baccarin
Clara Baccarin é poeta, escritora e tradutora. Autora do
romance Castelos Tropicais (Ed. Chiado, 2015), e do livro de poemas Instruções
para Lavar a Alma (Ed. Sempiterno, 2016). É uma contadora de histórias que
adora poetizar o mundo. Escreve por amor e rebeldia: desconstruindo verdades,
brincando com as palavras e ressignificando a vida.
Por favor, respeite os créditos ao compartilhar
DE CORAÇÃO A CORAÇÃO – http://www.decoracaoacoracao.blog.br
DE CORAÇÃO A CORAÇÃO – https://lecocq.wordpress.com
http://www.clarabaccarin.com
Fonte – https://adavai.wordpress.com
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